segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

SUCINTAS DECLARAÇÕES DE AMOR


Aqui, no meu bairro de Campo de Ourique, onde deambulo, vejo, frequentemente, palavras escritas a tinta preta nas paredes dos prédios e nos abrigos das paragens dos autocarros, que são sucintas declarações de amor. Por exemplo: “André love Patrícia”. No suplemento semanal do “DN Jovem”, do “Diário de Notícias” , preenchido por textos, em prosa e verso, de jovens escritores, é frequente ver os títulos desses textos redigidos em inglês.
O caso mais impressionante como sinal do domínio da civilização americana e da nossa falta de identidade, é o de uma manifestação pública de estudantes universitários de Lisboa contra o preço das propinas. Nessa manifestação, berrando e gesticulando, os estudantes portugueses, em Portugal, erguiam um cartaz em que se lia “Não pagamos until the end of the world”. De espantosos que é, aqui vos deixo a data do documento que comprova o que vos digo: Diário de Notícias de 15 de Maio de 1992.
Um outro aspecto impressionante é o da alteração que se tem efectuado da escrita de diversos apelidos portugueses acrescentando-lhe um apóstrofo e um s. O senhor Silva, conhecido leiloeiro de livros, de Lisboa, e que anuncia os seus leilões nos jornais, passou a anunciá-los intitulando-se SILVA’S. Admirável, meus queridos tetranetos. Orgulhai-vos de ser portugueses. Desta pátria, a mais formosa e linda, que ondas do mar e luz do luar viram ainda.
O vosso pentavô  António Nunes, pai da vossa tetraavó Natália, mulher do tetravô que vos está escrevendo, era natural de Oliveira de Frades, uma modesta e graciosa vila do distrito de Viseu, onde eu, e a dita vossa tetravó Natália, fomos diversas vezes passar as férias de verão para recompor o corpo e o espírito passeando nas estradas e nos atalhos da localidade. Um dos poucos estabelecimentos aí existentes era a loja do senhor Grilo. Assim era antes do 25 de Abril. Veio a Revolução, veio a liberdade de expressão e, quando fomos de novo a Oliveira de Frades, pasmaram-se-nos os olhos ao lermos s tabuleta sobre a porta do modesto estabelecimento. Dizia: GRILLO’S.

Rómulo de Carvalho em Memórias

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