terça-feira, 12 de dezembro de 2017

COMO UM PARAÍSO QUE EU TINHA DE ABANDONAR


A cena da música folk fora como um paraíso que eu tinha de abandonar, como Adão teve de abandonar o jardim. Era simplesmente demasiado perfeito. Dentro de uns anos desabaria uma tempestade de merda. As coisas começariam a aquecer. Sutiãs, cartões de recrutamento, bandeiras americanas, até pontes – todos sonhavam em pegar-lhes fogo. A alma nacional ia mudar e em muitos aspectos seria semelhante à Noite dos Mortos Vivos. A estrada que tínhamos pela frente seria traiçoeira e não sabia onde é que aquilo ia parara, mas meti por ela. Um mundo estranho acabaria por se revelar, um mundo tempestuoso com contornos desenhados pelos relâmpagos. Muitos não chegaram a perceber o que se estava a passar. Estava tudo em aberto. Uma coisa é certa, não só era governado por Deus como também não era pelo diabo.

Bob Dylan, parágrafo final de Crónicas

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