segunda-feira, 16 de outubro de 2017

OLHAR AS CAPAS


Férias de Natal

W. Somerset Maugham
Tradução: Leonel Vallandro
Capa: Bernardo Marques
Colecção Miniatura nº  11
Livros do Brasil, Lisboa s/d

Charley hesitou. Não tinha sentimentos religiosos definidos. Fora educado na crença de Deus – mas ao mesmo tempo ensinavam-lhe a não pensar nele. Isso seria… bom, não seria precisamente má educação, mas um tanto pedantesco. Era-lhe difícil dar voz aos seus pensamentos, mas encontrava-se numa situação em que a linguagem mais mística chegava a parecer quase natural.
- O seu marido cometeu um crime e foi castigado. Isso parece-me justo. Mas você pode julgar que um… Deus misericordioso lhe exija expiação do mal feito por outra pessoa.
- Deus? Que tem Deus a ver com isto? Supões que eu possa ver a miséria em que vive a grande maioria da Humanidade e continuar a acreditar em deus? Supões que eu creia em Deus, que deixou os revolucionários matarem o meu pobre pai, um homem bom e simples? Sabe o que penso? Pois penso que deus está morto há milhões e milhões de anos. Penso que, depois de apanhar o Infinito e pôr em movimento o processo que resultou na criação do Universo, ele morreu, e que, pelos séculos fora, os homens têm buscado e adorado um ser que deixou de existir no próprio acto de lhes tornar possível a existência.

Sem comentários: